Lá fora faz um lindo dia, faz uma temperatura agradável. Nem muito frio, mas também não sinto calor para andar de bermuda na avenida Paulista. Lá fora está vazio. Hoje é feriado municipal e São Paulo parece cidade fantasma. As pessoas que enchem a cidade estão todas dentro de suas casas, em frente às suas televisões, ou em suas camas, ou até mesmo jogadas em cima de um sofá somente esperando a tarde passar, afim de realmente descansar, espairecer; sinceramente, afim de não fazer absolutamente nada. As ruas estão vazias porque aqueles que a encheriam estão em viagem, foram badalar em outros lugares, foram agitar outros ares, curtir o descanso trabalhando os músculos na praia, no campo, numa piscina em qualquer outra cidade que não seja São Paulo.
Lá fora tem muito o que fazer, tem muito o que ver, muito o que conhecer. Mas lá fora não tem a minha vontade. Ela está aqui comigo, neste exato momento e lugar. Esta não sai, ou pelo menos agora não quer. Lá fora é só idealização, o concreto está apenas nas grandes edificações .
Lá fora é onde eu posso achar qualquer coisa boa ou ruim. Lá fora é lugar de criar expectativas, mas aqui dentro eu as desenho primeiro. Lá fora eu posso rir dos outros, mas se a cidade está fazia eu rirei de mim mesmo à toa e sozinho andarilho de uma cidade fantasma sem ninguém estranho ao lado pra me divertir gratuitamente.
Aqui dentro eu desenho e apago toda ideia, toda magia fantasiada por mim. Aqui eu decido quem faz parte desse circo que eu mesmo criei e que muitas vezes só eu participo.
Lá fora é quente e frio, depende do humor de cada um que possa estar lá. No entanto, é bom sair agasalhado.
Lá fora hoje, só amanhã! Amanhã serei obrigado a estar lá fora. Lá fora há obrigações e trabalho. Há socialidade obrigatória. Há caras e bocas ,risos e ironias.
Amanhã, lá fora, eu possa talvez falar do aqui dentro. Amanhã, lá fora, pode estar melhor que aqui dentro. Apenas uma questão de momento. Neste momento é aqui que me aconchego. Lá fora começa a ficar frio parece que me pedindo pra continuar protegido, aguardando o melhor momento para abrir a porta de livre e espontânea vontade.